domingo, 21 de junho de 2009

Das bin ich?


Quando você dirige a proa visionária para uma estrela e estende a asa para tal excelsitude inalcançavel, no afã da perfeição e rebelado contra a mediocridade, leva com você a mola misteriosa de um Ideal. É o fogo sagrado, capaz de temperá-lo para grandes ações. Cuide dele; se você deixar que se apague, jamais se reacenderá. E se morre em você, você ficará inerte: fria bazófia humana. Você só vive por essa partícula de sonho que o põe acima do real. Ela é a flor-de-lis de seu brasão, o penacho de seu temperamento. Inúmeros sinais a revelam: quando lhe dá um nó na garganta ao recordar a cicuta imposta a Sócrates, a cruz içada para Cristo e a fogueira acesa para Giordano Bruno; quando você se abstrai no infinito lendo um diálogo de Platão, um ensaio de Montaigne ou um discurso de Helvécio; quando o coração estremece pensando na sorte desigual dessas paixões em que você foi, alternativamente, o Romeu de alguma Julieta e o Werther de alguma Carlota; quando suas fontes gelam ao declamar uma estrofe de Musset que rima com seu sentimento; quando, em suma, você admira a mente ilustre dos gênios, a sublime virtude dos santos, o máximo feito dos heróis, inclinando-se com igual veneração diante dos criadores da Verdade ou da Beleza.
Nem todos, como você, se extasiam diante de um crepúsculo, sonham diante de uma aurora ou vibram diante de uma tempestade. Nem todos gostam de passear com Dante, rir com Molière, tremer com Shakespeare, crepitar com Wagner. Nem todos emudecem ante o David, a Ceia, ou o Partenon. É de poucos essa inquietude de perseguir avidamente alguma quimera, venerando filósofos, artistas e pensadores que fundiram em síntese suprema suas visões do ser e da eternidade, voando para além do real. Os de sua estirpe, cuja imaginação é povoada de ideais e cujo sentimento neles concentra toda a personalidade, formam uma raça à parte na humanidade: são os idealistas.
Definindo sua própria emoção, poderia aquele que se sente poeta dizer: o Ideal é um gesto do espírito no sentido da perfeição. (grifo meu)


INGENIEROS, José. O Homem Medíocre. Curitiba: Chain, [19--]. 208 p.

Um comentário:

  1. Profundissimo esse blog!
    A sua cara eu diria ;)
    =*
    ps: esses olhos eh humilhacao!!!

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